Sunday, October 24, 2010

Vazia


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Estou vazia

Vazia como uma velha bacia

Vazia como uma piscina sem água

Vazia como um ninho sem ovos

Vazia como uma casa mal assombrada sem fantasmas

Vazia como um copo sem água

Vazia como um prato na favela

Vazia como uma garrafa sem bebida

Vazia como um castelo sem rei

Vazia como uma escola sem alunos

Vazia como um país sem esperança

Vazia como um lar sem filhos

Vazia como um céu sem chuva

Vazia como uma noite sem lua

Vazia como um dia sem sol

Vazia como uma cidade depois do furacão

Vazia como a barriga do mendigo

Vazia como um país após a guerra

Vazia como um mar sem peixes

Vazia como o corpo sem alma

Vazia como a flor sem perfume

Vazia como a música sem melodia

Vazia como a tempestade sem trovões

Vazia como a solidão do ser humano

Vazia de idéias

Vazia de ideais

Vazia de sentimentos

Vazia de planos

Enfim

Completamente vazia...

Lentamente vou enchendo todo o vazio de minha alma...

Enchendo, lentamente

Lentamente, enchendo...

Com uma tênue esperança

Com uma leve esperança

Com uma breve esperança

De que

Haverá ovo no ninho

Haverá prato cheio na favela

Haverá água no copo

Haverá um rei no castelo

Haverá aluno na escola

Haverá peixe no mar

Haverá esperança no país

Haverá estrela brilhando à noite

Haverá alimento na barriga do mendigo

Haverá alma no corpo

Haverá Vida...

Idéias criativas, sentimentos verdadeiramente amorosos e ideais sublimes

Lentamente, vou enchendo todo o vazio de minha alma com esperança...

Uma breve, tênue, leve esperança que vai lentamente, vagarosamente crescendo e inundando meu vazio ser...

Rose Ramos (22 março 2006)


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Vida de Gado



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Deus é tão bondosamente , generosamente Criativo...

Será que Deus teve o trabalho, ou devo dizer, teve o Amor de criar aqui no planeta Terra (sem contar humanidades de outros planetas) uma população de aproximadamente 6.000.000.000 de indivíduos... seis bilhões de indivíduos...

cada um com uma impressão digital diferente do outro, para que nós fizéssemos o que nós fazemos ?

Para que copiássemos uns aos outros, iguaizinhos, pessoas em série, fazendo todos as mesmas coisas, do mesmo modo, pensássemos do mesmo jeito, vestíssemos todos do mesmo modo?

E se um indivíduo se rebela contra esse sistema de massificação que nós mortais criamos, esse um indivíduo é rotulado de excêntrico, de infantil, de estranho, temos medo desse UM e se possível fazemos o possível e o impossível para “enquadrá-lo”, para que ele se torne “normal”... o que na nossa sociedade significa...

despersonalizá-lo, fazer com que ele aja, pense, sinta o que todos sentem, se possível, fazer clones...

Todos iguais, iguaizinhos, idênticos...

Alguns círculos tentando entrar em buracos quadrados, alguns triângulos tentando ser quadrados, alguns retângulos tentando ficar mais estreitos para parecerem quadrados...

E ai daquele círculo, triângulo ou retângulo que teime em permanecer e se desenvolver como suas próprias naturezas, ou seja, respectivamente, desistirem de se transformarem em um quadrado e serem o melhor círculo, ou o melhor retângulo, ou o melhor triângulo, que são suas reais essências...

Ai destes corajosos...

Corajosos sim ! Porque precisa-se de muita coragem para se remar contra a correnteza massacrante que é a nossa sociedade, dita “civilizada”.

Ai deles ! alguns ficam doentes por serem muito sensíveis e são internados e dopados para se tornarem “normais”.

Estes sensíveis, às vezes, não têm estrutura para agüentar esta sociedade dita “normal”.

E, às vezes, o indivíduo era sadio, mas é internado e dopado por não se encaixar nos padrões ditos “normais”.

Camille Claudel (a famosa escultora que sobrepujou-se a Rodin, em minha opinião) foi um lindo círculo que se recusou a se transformar em um medíocre quadrado !

Internaram Camille Claudel em um hospício por 30 anos e nem deixaram que ela expressasse sua dor e angústia, sua luta na tentativa de se manter fiel à sua essência: um lindo círculo lutando para se desenvolver como maravilhoso círculo que era...

Esqueceram-na em um hospício e tiraram dela a sua paixão: os instrumentos para ela continuar fazendo esculturas...

Mas ... as obras que ela deixou antes de ser internada, dizem mais que milhões de palavras...

Cada escultura evoca em nós milhares de sentimentos, nos emociona a alma muito profundamente...

Ela deixou esculpida em madeira, mármore ou latão, toda a gama de sofrimento que ela sentiu, toda sua angústia, tristeza, desespero estão indelevelmente marcados, vincados em suas esculturas, em sua obra...

Somos 6.000.000.000 de bois irracionais ?

Será que Deus criou 6.000.000.000 de indivíduos para isto ?

Para virarmos robôs sem pensamento próprio, sem sentimentos próprios, sem questionar os fatos ?

Autômatos sem sentimento ? Autômatos sem ideais ?

Autômatos sem opinião própria ?

Autômatos sem individualidade ?

6.000.000.000 de bois irracionais...

6.000.000.000 de indivíduos... para isto ?

Não creio que foi esta a idéia de Deus para cada um de seus filhos criados com tanto Amor...


(Rose Ramos – Março 1998)


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Qual o Preço ?!


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Qual o preço ?

Preço !

Preço alto...

Qual o preço da individuação do ser humano ?


Qual o preço de descobrir-se como ser único e singular na Criação Divina ?

Alto !

Alto preço...

Qual o preço de descobrir-se cada vez mais maduro em um mundo superficial e fútil ?

Qual o preço ?

Alto...

Qual o preço de descobrir-se como uma árvore com raízes fortes, profundas, longas, que se espalham abaixo por uma longa profundidade ? raízes intensas, fortes...

Preço alto !

Qual o preço de só aceitar relacionamentos sadios, inteiros, verdadeiros, significativos, íntegros e profundos ?

Alto preço !

Qual o preço quando se sente com a profundidade e maturidade de um ser que já fez longas e árduas caminhadas dentro de sua própria alma ?

Alto !

Qual o preço de cada vez mais aplicar-se o “Conhece-te a ti mesmo” ?

Qual o preço de se conhecer a si próprio, sua alma, seus reais e profundos sentimentos, seus verdadeiros sonhos ?

Qual o preço de descobrir, cada vez mais, o que realmente e verdadeiramente alimenta a sua alma, e o que a aprisiona e a paralisa ?

Qual o preço de sentir-se uma árvore com raízes profundas em um mundo onde grassam arbustos quase sem raízes, arbustos que não lançam suas raízes para as profundezas, arbustos com raízes tão frágeis que à menor erosão, se encolhem...?

Qual o preço de se dar valor ao que realmente deve ser valorizado ?

Qual o preço de se valorizar o eterno, o duradouro, o permanente em um mundo em que se valoriza o efêmero, o passageiro e transitório ?

Qual o preço da liberdade de ir e vir, da liberdade de expressão, da liberdade de ter opinião própria, pensamentos próprios e agir de acordo com estes pensamentos em um mundo que valoriza a mesmice, a cópia, a padronização de pensamentos e ações ?

Qual o preço de se ser livre ?

Livre de convenções...

Livre de massificações...

Livre de padronizações...

Livre da “moda” vigente...

Livre de preconceitos...

Livre de estereótipos...

Livre de rótulos...

Qual o preço que se paga ?

Alto !

Mas, embora seja solitário sentir-se como uma árvore de raízes profundas neste mundo fútil e superficial...

O alimento que pode ser resgatado das entranhas das profundezas da terra da alma, através destas raízes profundas e vigorosas...

Alimenta a alma...

Com o permanente

Com o realmente significativo...

Com o que realmente não tem preço:

O descobrir-se a luz interna, o deus interno, a singularidade de ser um ser único em um Universo criado por Deus !

E a solidão e tristeza de saber que todos e cada um dos filhos do Pai Criador são únicos e singulares, mas uma maioria se contenta em levar uma vida superficial...

Arbustos com raízes frágeis e pequenas, sem alimento próprio, sem sustentação, que à menor ventania se quebram e são levados pela roda viva desta civilização não pensante e massacrante...

Prefiro pagar o alto preço...

E conquistar o que não tem preço...


Rose Ramos (22/05/2008)

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Efêmero

Déjà vu

Tudo passa
As pessoas passam
Os acontecimentos passam
Tudo passa
Por quê esta ânsia ?
Para chegar onde ?
Para encontrar quem ?
Tudo é efêmero
Os relacionamentos inclusive
Os de filhos e pais
Irmãos
Marido e esposa
Na eternidade os encontros são
Com amigos de alma
Sem o peso das funções
Pai
Mãe
Irmão
Marido
Esposa
Qual o tempo destas funções ?
Qual o papel destas funções ao longo da eternidade ?
Nenhum
Nenhum peso
Nenhuma força
Todas as funções e papéis só fazem sentido
Se há o encontro de almas
Quantos irmãos onde há os laços de sangue
Mas não há o encontro
Quantos maridos e esposas onde há o compromisso
Mas não há o encontro
Quantos pais e filhos onde há os papéis
Mas não há o encontro
Encontro de almas
É o que busco
É o que anseio
É pelo que minha alma grita
É pelo que meu coração pulsa
É a nostalgia que me impregna
É a nostalgia de não sei o quê
É a nostalgia de algo que não me lembro
É a nostalgia de tempos que se perderam na eternidade
Se no mundo invisível paralelo a esse,
O que realmente vale é a ligação de almas
Pai...
Mãe...
Marido...
Filho...
Esposa...
Irmão...
Que importa ?
Estes papéis perdem seu sentido
Na vida invisível, após a vida terrena
Encontro de almas
É o que anseio
É a nostalgia desconhecida que se abate sobre mim
É a saudade de pessoas, lugares, acontecimentos onde houve
O encontro de almas na eternidade
São pequenos “flashes” que insistem em me acordar
déjà vu
Lugares, pessoas que não sei quem são,
Que nesta vida, não conheci
Saudades
Nostalgia
Pequenas pontadas no coração
Uma pequena tristeza que permeia meu hoje
Por quê querer controlar a Vida ?
Por quê querer controlar os acontecimentos ?
Por quê querer controlar as pessoas ?
Temos o poder efetivo e grande apenas e somente
De transformarmos a nós mesmos
E com isso, a realidade a nossa volta
Mas tentar controlar a Vida e as pessoas
É simplesmente insano
Tudo passa
As pessoas passam
Os acontecimentos passam
Só há Um que é Eterno
Só há Um que é O Ontem, O Hoje e O Amanhã ao mesmo tempo
Só há Um que é a Vida na sua Totalidade
Só há Um que é a Verdade Absoluta e Infinita
Como seres imortais, que somos,
Com livre arbítrio,
Só nos resta pegar os fragmentos soltos,
Pequeninos e confusos
Como um quebra cabeças e
Aceitar que O Divino sabe montar as pecinhas
E está nos guiando nesta viagem
Viagem que muitas vezes não entendemos os porquês.
Essa nostalgia
Essa saudade
Talvez passem também
Como as pessoas que passam pelas nossas vidas
Talvez o enigma seja
Viver o hoje
Viver o agora
Com suas simples e pequeninas alegrias
Às vezes, tão pequeninas e tão profundas ao mesmo tempo
Que nem as notamos, nem as valorizamos.
Uma caminhada
Um ninho de passarinho em uma árvore
Um céu azul
Uma borboleta
Um amigo querido
Uma refeição saborosa
Um banho quentinho
A certeza do amor incondicional de uma mãe
Tempo livre para fazer absolutamente nada
Um passarinho voando e cantando
Um livro interessante que nos alimenta a alma
Abrir a janela ao amanhecer
Dormir um sono tranqüilo zelado pelo nosso anjo protetor
E finalmente descobrimos
Que o que realmente importa
Como já disse algum autor conhecido que não me recordo agora
Não é a chegada
Mas a viagem
Minha querida e estimada companheira Nostalgia de não sei o quê !
Tentarei viver o agora
Tentarei curtir a viagem
E quem sabe assim
Você se aquiete em meu coração
Afinal, tudo passa...
Inclusive você, não é ?


Rose Ramos (17 Janeiro 2010)


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Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores

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Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores

Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho

Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim

composição: Vander Lee - Meu Jardim



Este cantor é um poeta !!!

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Este cantor é um poeta, ele é o autor da letra.




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