Friday, September 24, 2010

carta de Clarice Lispector


carta de Clarice Lispector...


Encontrei esta reportagem em um jornal de 25 de julho de 1994, segundo o autor do texto seria uma carta de Clarice Lispector para uma amiga, estou reproduzindo o que está no texto.


"Berna, 2 de janeiro de 1947

Querida,


Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias.

Depois que uma pessoa perder o respeito a si mesma e o respeito às suas próprias necessidades - depois disso fica-se um pouco um trapo.

Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar e contar experiências minhas e de outros.

Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.

Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, ou falta de caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar previnida.

Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos leva de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar.

Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas.

Você já viu como um touro castrado se transforma num boi ?

Assim fiquei eu...em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força.

Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. Espero que no navio que me leve de volta, só a idéia de ver você e de retomar um pouco de minha vida - que não era maravilhosa mas era uma vida - eu me transforme inteiramente.

Uma amiga um dia, encheu-me de coragem, como ela disse, e me perguntou: Você era muito diferente, não era ? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse:
ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinquenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus.


Não haveria necessidade de lhe dizer, então. Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado.

Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver.


Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia - será punida e irá para um inferno qualquer.

Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão.

Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que a sua vida exige.

Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma.

Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Isso seria uma lição para mim.

Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade de alma.
Tua
Clarice"

(Clarice Lispector)

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Carta de um homem para as mulheres...

Às Mulheres:


A vocês mulheres flores e fonte da eterna primavera, bem vindas!

Sejam bem vindas a este mundo que construímos.
Parabéns pelos novos caminhos.

Cuidado com as antigas trilhas.
Vocês chegam não como um fato como uma antropologia a mais da história do mundo.
Vocês chegam para o complemento. Vocês conquistaram a posição que merecem.Vocês estão aí para a correção.

Vocês adentram para a reconstrução porque nós homens cartesianos, com orgulho, já fizemos muito.
Quantos erros, quantos acertos. A estes continuemos.
A nossos desvios, cuidado!

Porque muitas vezes, somos pilotos de máquinas registradoras.
Maximizamos o lucro financeiro, minimizamos a realização pessoal.

Usamos e abusamos do cérebro esquerdo.
Racionalizamos a emoção. Matematizamos o coração.
Tornamos o país e a vida em um fluxo de caixa.
Isto não é tudo, aliás, talvez não seja quase nada.
É hora de mudar.

Graças a Deus, vocês chegam.
Mas, pelo amor de Deus cheguem para somar, jamais para o confronto.

Eu proponho nos dar um perdão. Amplo, geral e irrestrito.
Reconheço que construímos, aliás, com brilhantismo,
a sociedade da riqueza.
Desenvolvemos o Q.I., fomos "machos pra valer".

Perdoem nossos erros. Vamos nos juntar um com o outro.
Um respeitando o outro. Nos entendendo.
Sômos o côncavo e o convexo da nossa parceria.

Apenas um pedido: não sejam homens de batom.
Cérebro esquerdo de cabelos longos, vozes finas autoritárias.

Nós precisamos de novos líderes, com intuição,
com valores mais nobres. Com menos pré-julgamento.
Com uma nova sociologia. Gente limpa.

Lucro nós sabemos obter. Queremos ser felizes.
Nós precisamos do seu amor. Amor de mãe, que acabe com as guerras, que nos entenda e nos olhe nos olhos.

Que nos dêem carinho; nós precisamos de vocês simplesmente mulheres.

(Marco Aurelio Vianna)


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Elegância do Comportamento

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara:
A elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.


É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.


É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam.
Nas pessoas que escutam mais do que falam.
E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas, por exemplo.


Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la em pessoas pontuais.


Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não
recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.


Oferecer flores é sempre elegante.
É elegante não ficar espaçoso demais.
É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que você teve
que se arrebentar para o fazer...
porém, é elegante reconhecer o esforço, a amizade e as qualidades dos outros.


É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante retribuir carinho e solidariedade.


É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo,a estar nele de uma forma não arrogante.


É elegante a gentileza.
Atitudes gentis falam mais que mil imagens...
Abrir a porta para alguém é muito elegante...
Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante...


Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
Oferecer ajuda... é muito elegante...

Olhar nos olhos, ao conversar é essencialmente elegante...

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.


(autor desconhecido)