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As trilhas que todas estamos seguindo são aquelas do arquétipo da Mulher Selvagem, o Self Instintivo inato.
Chamo-a de Mulher Selvagem porque essas exatas palavras, mulher e selvagem... tocam a porta da psique profunda da mulher....
Não importa a cultura pela qual a mulher seja influenciada, ela compreende as palavras mulher e selvagem intuitivamente.
Quando as mulheres ouvem essas palavras, uma lembrança antiga é acionada, voltando a ter vida. Trata-se da lembrança do nosso parentesco absoluto, inegável e irrevogável com o feminino selvagem, um relacionamento que pode ter se tornado espectral pela negligência, que pode ter sido soterrado pelo excesso de domesticação, proscrito pela cultura...
O arquétipo da Mulher Selvagem envolve o ser alfa matrilinear.
O termo selvagem neste contexto não é usado em seu atual sentido pejorativo de algo fora de controle, mas em seu sentido original, de viver uma vida natural, uma vida em que a criatura tenha uma integridade inata e limites saudáveis.
Essas palavras, mulher e selvagem, fazem com que as mulheres se lembrem de quem são e do que representam. Elas criam uma imagem para descrever a força que sustenta todas as fêmeas. Elas encarnam uma força sem a qual as mulheres não podem viver.
A compreensão dessa natureza da Mulher Selvagem não é uma religião, mas uma prática.
Sem ela, as mulheres não têm ouvidos para ouvir o discurso da sua alma ou para registrar a melodia dos seus próprios ritmos interiores.
Sem ela, a visão íntima das mulheres é impedida pela sombra de uma mão, e grande parte dos seus dias é passada num tédio paralisante ou então em pensamentos ilusórios.
Sem ela, as mulheres perdem a segurança do apoio da sua alma.
Sem ela, as mulheres esquecem do motivo pelo qual estão aqui; agarram-se às coisas quando seria melhor afastarem-se delas.
Sem ela, elas exigem demais, de menos ou nada.
Sem ela, elas se calam quando de fato estão ardendo.
O arquétipo da Mulher Selvagem é a saúde para todas as mulheres.
Essa mulher não domesticada é o protótipo de mulher...
Não importa a cultura, a época, a política, ela é sempre a mesma.
Seus ciclos mudam, suas representações simbólicas mudam, mas na sua essência Ela não muda. Ela é o que é; e é um ser inteiro.
Ela abre canais através das mulheres. Se elas estiverem reprimidas, ela luta para erguê-las. Se elas forem livres, ela é livre.
Felizmente, por mais que seja humilhada, ela sempre volta à posição natural. Por mais que seja proibida, silenciada, podada, enfraquecida, torturada, rotulada de perigosa, louca e de outros depreciativos, ela volta à superfície nas mulheres, de tal forma que mesmo a mulher mais tranqüila, mais contida, guarda um canto secreto para a Mulher Selvagem.
O arquétipo da Mulher Selvagem carrega consigo os elementos para a cura; traz tudo o que a mulher precisa ser e saber.
Aproximar-se da natureza instintiva não significa desestruturar-se, mudar tudo da esquerda para a direita, do preto para o branco, ... agir como louca ou descontrolada. Não significa perder as socializações básicas ou tornar-se menos humana. Significa exatamente o oposto. A natureza selvagem possui uma vasta integridade.
Ela implica delimitar territórios, encontrar nossa matilha, ocupar nosso corpo com segurança e orgulho independentemente dos dons e das limitações desse corpo, falar e agir em defesa própria, estar consciente, alerta, recorrer aos poderes da intuição e do pressentimento inatos às mulheres, adequar-se aos próprios ciclos, descobrir aquilo a que pertencemos, despertar com dignidade e manter o máximo de consciência possível.
... o que é a Mulher Selvagem ?
Do ponto de vista da psicologia arquetípica... ela é a alma feminina.
No entanto, ela é mais do que isso. Ela é a origem do feminino.
Ela é a força da vida-morte-vida; é a incubadora. É a intuição, a vidência, é a que escuta com atenção e tem o coração leal. Ela estimula os humanos a continuarem a ser multilingües: fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão, da poesia. Ela sussurra em sonhos noturnos.
Ela é idéias, sentimentos, impulsos e recordações.
Ela ficou perdida e esquecida por muito, muito tempo. Ela é a fonte, a luz, a noite, a treva e o amanhecer. Ela é o cheiro da lama boa e a perna traseira da raposa. Os pássaros que nos contam segredos pertencem a ela. Ela é a voz que diz, “Por aqui, por aqui”.
Ela é quem se enfurece diante da injustiça. Ela é a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos. É à procura dela que saímos de casa. É à procura dela que voltamos para casa. Ela é tudo que nos mantém vivas quando achamos que chegamos ao fim.
Onde ela está presente ?
Onde se pode senti-la ? Onde se pode encontrá-la ?
Ela caminha pelos desertos, bosques, oceanos, cidades, nos subúrbios e nos castelos. Ela vive entre rainhas, entre camponesas, na sala de reuniões, na fábrica, no presídio, ma montanha da solidão.
Ela vive no gueto, na universidade e nas ruas. Ela deixa pegadas para que possamos medir nosso tamanho. Ela deixa pegadas onde quer que haja uma única mulher que seja solo fértil.
Onde vive a Mulher Selvagem ?
No fundo do poço, nas nascentes, no éter do início dos tempos. Ela está na lágrima e no oceano. Está no câmbio das árvores, que zune à medida que cresce. Ela vem do futuro e do início dos tempos. Vive no passado e é evocada por nós. Vive no presente e tem um lugar à nossa mesa, fica atrás de nós numa fila e segue à nossa frente quando dirigimos na estrada. Ela vive no futuro e volta no tempo para nos encontrar agora.
Ela vive no lugar onde é criada a linguagem. Ela vive da poesia, da percussão e do canto.
Ela é o momento imediatamente anterior àquele em que somos tomadas pela inspiração.
Ela vive num local distante que abre caminho até o nosso mundo.
Este é um livro de relatos sobre os costumes do arquétipo da Mulher Selvagem. Tentar esquematizá-lo, delimitar sua vida psíquica dentro de escaninhos, seria contrário ao seu espírito.
Conhecê-la é um processo permanente, um processo que dura a vida inteira, e é por isso que esta obra é um trabalho permanente, perpétuo.
- trechos retirados do livro:
“Mulheres que Correm com os Lobos”
autora: Clarissa Pinkola Estés
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